Rodolfo Alexandre Reis
Investidor belga confirma que há “muitos grupos a investir de forma massiva no país”. Arrendamento de longo prazo é a aposta.
“Não vejo o mercado imobiliário em Portugal morto, de todo”. A afirmação é de Claude Kandiyoti, em declarações ao Jornal Económico (JE), quando questionado sobre quando poderá o setor começar a reagir à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. O CEO da Krest Real Estate assume que não sabe como vai ser o futuro, mas que atualmente “ainda há muito dinheiro e muitos grupos a investir de forma massiva no país”.
O problema para o investidor de origem belga está no sistema bancário que não se mostra disposto a grandes financiamentos para o desenvolvimento do setor, mas, por outro lado, financiam pessoas que querem comprar casa ou investir no imobiliário, mas não para o desenvolver. “Temos de encontrar um equilíbrio, no entanto não sei como será feito”, realça.
O CEO da Krest olha para um mundo que vive na incerteza devido à pandemia, uma incerteza que não é boa para o negócio. No que respeita ao mercado imobiliário, o responsável acredita que o principal problema estará no mercado residencial e em como torná-lo acessível para as pessoas que serão mais atingidas por esta crise, que são as de classes baixas, uma vez que o mercado não tem produto disponível para elas. “Vamos ter de criar um novo tipo de residências para um mercado que não conhecemos bem em Portugal, que é o do arrendamento de longo prazo”, salienta.
O mercado de arrendamento será, assim, a grande aposta para o CEO e em zonas fora de Lisboa, onde os preços “estão inacessíveis e ainda não vão baixar”. “As pessoas querem espaços iguais ou maiores por dois terços do preço e por isso estão prontas para sair da cidade e mudar-se para um novo ambiente”, frisa. Ainda no mercado residencial, o responsável indica que nos mercados europeus existe um boom, com as pessoas a correr para comprar apartamentos com grandes áreas, porque querem viver em espaços com varandas. “Lisboa tem poucas habitações com varandas e as pessoas sofreram muito fechadas nas suas casas durante o confinamento”, realça.
Sobre novos projetos, além do Jardim de Miraflores com três torres de 490 apartamentos, o CEO da Krest tem a arrancar, até ao fim do ano, dois projetos no Algarve, um em Forte Novo, previsto para 2023, e outro em Vilamoura que estará em concluído em meados de 2024, ambos no segmento residencial. No Porto, está em curso um projeto misto de residencial e escritório em Campanhã. Um outro, mas que levará mais algum tempo a desenvolver e que dá pelo nome de “Village Garden”, ficará localizado em Alcochete.
Uma das principais mudanças que a pandemia trouxe foi a adoção do teletrabalho e com isso a ausência dos locais de trabalho, em particular os escritórios que poderão sofrer uma remodelação.
“Atualmente ninguém consegue tomar uma posição sobre como vão funcionar, mas daqui por seis meses podemos ter uma ideia mais clara, porque hoje ninguém sabe como as pessoas vão trabalhar. Vão estar dois dias no escritório e três em casa, ou vice-versa? Vão deixar totalmente de trabalhar nos seus locais de trabalho?”, questiona Claude Kandiyoti, que revela algumas tendências que começam a ver-se neste segmento, como empresas de publicidade que reduziram ou deixaram por completo os seus locais de trabalho mudando- -se para espaços de coworking para terem mais flexibilidade e perceberem como as coisas evoluem.
O CEO apresenta números sobre o mercado de escritórios em Portugal. “O take-up até agosto era de 97 mil m2, menos 28% que no ano anterior. Um total de 16 mil m2 foram colocados no mercado. A procura caiu dos 115 mil m2 para um total de 60 mil m2. São números baixos, mas não significa que em seis meses não consigamos voltar a uma certa ‘normalidade’, onde as empresas vão procurar espaços maiores mas com menos trabalhadores”, afirma. Mas estarão os portugueses disponíveis e com vontade de regressar ao seu local de trabalho? O reponsável da Krest diz que não sabe se os portugueses querem voltar aos seus locais de trabalho. “Não tenho essa certeza, mas acredito que muitos não queiram voltar. O que sei é que a mentalidade dos portugueses não está preparada para esta forma de viver”, frisa.
O CEO olha igualmente para o setor do turismo que também tem sofrido com a pandemia, dando o exemplo do seu hotel no Parque das Nações, em Lisboa, cuja abertura em setembro foi cancelada. “Em Lisboa, 98% das pessoas que visitam a cidade são estrangeiros. Estamos a pensar abri-lo em janeiro de 2021, com a ideia de que não estará em total andamento pelo menos até meados de 2022. Abrir agora um novo hotel ia criar-nos mais problemas do que mantê-lo encerrado”, conclui.